A inflação mais aqui os preços continuam os mesmos

A inflação mais aqui os preços continuam os mesmos

*ARQUIVO* São Paulo, SP, 21-02-2019: Cédulas de real. Papel Moeda. Dinheiro. (Foto: Gabriel Cabral/Folhapress)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pela primeira vez desde 2007, o índice de preços ao consumidor do Brasil está abaixo da inflação americana. Por enquanto, a diferença a favor do indicador brasileiro está concentrada nos itens que foram desonerados às vésperas das eleições presidenciais: combustíveis e energia. A inflação dos alimentos e dos demais preços continua mais alta por aqui.

Esse é um cenário que deve ser mantido até meados de 2023, quando a alta de preços no Brasil deve voltar a superar o índice dos EUA, segundo projeções de analistas econômicos.

O IPCA (índice de preços ao consumidor) registrou alta de 7,17% nos últimos 12 meses, enquanto o CPI americano (consumer price index) subiu 8,2% no mesmo período.

A inflação de alimentos ainda é um pouco maior no Brasil (11,7%) do que nos EUA (11,2%). Os preços dos serviços acumulam alta de 8,5% aqui e 6,7% para os americanos.

Enquanto gasolina e energia elétrica subiram quase 20% nos EUA, houve deflação na mesma magnitude no Brasil em 12 meses.

As projeções de inflação do mercado para 2022 estão próximas de 5,5% para o IPCA e de 7% para o CPI americano. Para 2023, a perspectiva é que o índice dos EUA registre alta menor (3,5%) do que o brasileiro (5%).

Além das desonerações, algumas delas com data para acabar, outra explicação para a diferença está na política monetária.

A taxa básica de juros no Brasil (Selic) começou a subir em março de 2021, está atualmente em 13,75% ao ano e deve permanecer assim até meados do próximo ano, apesar da queda esperada da inflação nos próximos meses. Isso representa um juro real (diferença entre as projeções para a Selic e a inflação) superior a 8% ao ano.

Nos EUA, a taxa começou a subir um ano depois e passou de 0,50% para 3,25%. Ou seja, os juros reais ainda estão negativos.

"A política monetária está funcionando aqui no Brasil como o esperado. Se o BC começou a subir os juros um ano antes do Fed [BC dos EUA], seria de esperar que a inflação brasileira também desacelerasse mais cedo do que a americana. Como nem sempre isso foi verdade, podemos considerar esse também um ponto de comemoração pelo resultado do IPCA no acumulado em 12 meses", afirma Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa de Investimentos.

As outras vezes em que a inflação ficou menor no Brasil foram em janeiro de 1999 e em alguns meses entre junho de 2006 e novembro de 2007. Foram dois períodos em que os índices de preços estiveram em baixa em todo o mundo. O primeiro caso coincide com a época em que o IPCA registrou a menor inflação em 12 meses da história recente (1,65%), no governo FHC, com uma diferença de apenas 0,5 ponto para os EUA.

Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, afirma que a queda nos preços das matérias-primas e os efeitos das desonerações sobre preços em outros segmentos também ajudaram a reduzir os núcleos de inflação e a taxa de difusão do IPCA. "O cenário inflacionário está melhorando mais que o esperado."

Lohmann afirma que a taxa de inflação acumulada em 12 meses deve ficar próxima de 2% no final do segundo trimestre de 2023, quando o índice estará sem os meses mais afetados pelo início da Guerra da Ucrânia, mas ainda com influência dos cortes de ICMS. Com isso, deve aumentar a pressão para que o Banco Central comece a cortar os juros antes do que tem sido sinalizado pela instituição.

A queda da inflação no Brasil nos últimos meses pode ser explicada por uma combinação de redução de tributos, queda de preços de commodities em reais e efeito da política monetária.

Por outro lado, a inflação de serviços, que acumula nos 12 meses até setembro alta de 8,5%, ganhou força com o fim das restrições de circulação de pessoas durante a pandemia e tem preocupado o Banco Central do Brasil.

Aumento geral dos preços

Numa economia de mercado, os preços dos bens e serviços estão sujeitos a variações. Alguns preços sobem, outros descem. A inflação ocorre quando se verifica um aumento geral dos preços dos bens e serviços, não apenas de artigos específicos. Significa que, com 1 euro, se compra menos hoje do que ontem. Por outras palavras, a inflação reduz o valor da moeda ao longo do tempo.

Algumas variações de preços são mais importantes do que outras

No cálculo do aumento médio dos preços, os preços dos produtos em que se gasta mais – tais como a eletricidade – têm mais peso (isto é, uma ponderação maior) do que os dos produtos em que se gasta menos – por exemplo, açúcar ou selos de correio.

Vê o nosso filme de animação sobre a estabilidade de preços

Pessoas diferentes compram coisas diferentes

Todas as famílias têm os seus hábitos de consumo próprios: umas possuem automóvel e comem carne, outras utilizam apenas os transportes públicos ou são vegetarianas. A ponderação dos vários produtos e serviços na medição da inflação é determinada em função da média da despesa de consumo do conjunto das famílias.

Na medição da inflação, são tidos em conta todos os bens e serviços consumidos pelas famílias, incluindo:

  • artigos do dia a dia (como produtos alimentares, jornais e gasolina)
  • bens duradouros (como vestuário, computadores pessoais e máquinas de lavar roupa)
  • serviços (como cabeleireiro, seguros e renda de casa)

Compara o preço do cabaz de compras de ano para ano

Todos os bens e serviços consumidos pelas famílias ao longo do ano são representados por um “cabaz” de artigos. Cada um dos produtos incluídos no cabaz tem um preço, que pode variar com o tempo. A taxa de inflação homóloga é o preço do cabaz completo num determinado mês, comparado com o seu preço no mesmo mês um ano antes.

Inflação na área do euro

Na área do euro, a inflação dos preços no consumidor é medida pelo “Índice Harmonizado de Preços no Consumidor”, muitas vezes simplesmente designado “IHPC”. O termo “harmonizado” advém do facto de todos os países da União Europeia seguirem a mesma metodologia, o que assegura que os dados relativos a um país podem ser comparados com os dados referentes a outro.

Esta medida da inflação é uma boa forma de acompanhar a evolução dos preços na economia. Funciona como um mapa, que nos ajuda, no BCE, a tomar as decisões certas.

O nosso trabalho consiste em manter a estabilidade de preços. Para o efeito, asseguramos que a inflação – a taxa a que os preços variam ao longo do tempo – permanece baixa, estável e previsível: 2% a médio prazo.

Por que motivo é tão importante manter a estabilidade de preços

Comparabilidade entre países

Antes da adoção do euro como moeda única, cada país media a inflação recorrendo aos seus próprios métodos e procedimentos nacionais. Com a introdução do euro, passou a ser necessário um meio de medição da inflação para o conjunto da área do euro, sem lacunas ou sobreposições e comparável entre países. Assente num conjunto de normas juridicamente vinculativas, o IHPC veio proporcionar exatamente isso.

Ponderação de produtos no IHPC

O impacto da variação de um único preço no IHPC depende de quanto as famílias gastam, em média, no produto correspondente.

Exemplo 1 – Café: tal como o chá e o cacau, o café tem um peso (ou seja, uma ponderação) de 0,4%. Por conseguinte, qualquer variação do seu preço não terá um grande impacto no IHPC global.

Exemplo 2 – Gasolina: tal como outros combustíveis e lubrificantes para automóveis, a gasolina tem uma ponderação de 4,6%, pelo que uma variação percentual do seu preço igual à do preço do café terá um impacto cerca de dez vezes maior no IHPC.

Como é calculado o IHPC?

  1. Recolhendo preços – Todos os meses, são recolhidos milhões de preços em estabelecimentos comerciais e online, graças a sistemas automatizados de recolha na Internet, scanners em caixas registradoras e inquéritos. Esses preços abrangem toda a área do euro e estão agrupados em 295 categorias de produtos. O número exato dos artigos incluídos na amostra difere de país para país. Para cada produto, são recolhidos vários preços em diferentes estabelecimentos comerciais e regiões. Por exemplo, os preços dos livros têm em conta os diversos géneros de livros (ficção, não ficção, referência, etc.) vendidos em livrarias, supermercados e através da Internet.
  2. Determinando a ponderação de cada um dos grupos de produtos – Os grupos de produtos são ponderados em função da sua importância nos orçamentos médios das famílias. Para assegurar que o índice permanece relevante e reflete a evolução dos padrões de despesa, as ponderações são atualizadas regularmente. O cálculo das ponderações é efetuado com base nos resultados de inquéritos, onde é solicitado às famílias que indiquem os produtos nos quais gastam o dinheiro. As ponderações são médias nacionais que refletem a despesa de todos os tipos de consumidores (ricos e pobres, jovens e idosos, etc.).
  3. Estabelecendo a ponderação dos vários países – No caso dos países, as ponderações são determinadas pela percentagem de cada país na despesa de consumo total da área do euro.

Na sequência do reexame da estratégia de política monetária do BCE, concluído em 2021, o Conselho do BCE decidiu apoiar a inclusão no IHPC dos custos da habitação ocupada pelo proprietário, com vista a que o índice reflita melhor a experiência das pessoas com o aumento de preços.

A implementação demorará algum tempo. O Eurostat está a trabalhar na inclusão dos custos da habitação ocupada pelo proprietário no IHPC.

Entretanto, utilizaremos no BCE outras medidas da inflação que refletem os gastos com habitação própria, a fim de percebermos melhor a evolução dos preços na economia.

Quem calcula o IHPC...

... nos vários países? Cada um dos países da área do euro tem um instituto nacional de estatística, que calcula o IHPC do respetivo país.

... relativo à área do euro? Cada um desses institutos nacionais de estatística envia os respetivos valores para o Eurostat, o serviço de estatística da União Europeia, que calcula, então, o IHPC para o conjunto da área do euro. O Eurostat garante também a qualidade dos valores nacionais, verificando se as normas juridicamente vinculativas são cumpridas. Para mais pormenores, consulta as páginas do sítio do Eurostat sobre o IHPC.

Perceção da inflação

Os inquéritos a consumidores revelam muitas vezes que as pessoas “sentem” que a inflação é mais elevada do que os índices de preços efetivamente indicam. A que se deve essa perceção da inflação? Vários estudos académicos concluíram o que se segue.

  • Os aumentos de preços atraem mais atenção do que os preços estáveis ou decrescentes – Os aumentos de preços permanecem igualmente mais tempo na memória. As pessoas tendem a notar menos preços estáveis ou decrescentes, embora estes também contem para o cálculo da taxa de inflação média.
  • As pessoas notam mais o preço do que compram frequentemente – Nos últimos anos, os preços de alguns dos bens e serviços consumidos com mais frequência registaram um aumento superior à média. A gasolina, o pão e os bilhetes de autocarro são bons exemplos. Quando pensam na inflação, as pessoas prestam muitas vezes demasiada atenção às variações dos preços destes artigos, o que as pode levar a sobrestimar a taxa de inflação real.
  • As aquisições esporádicas e os débitos diretos são menos notados – Uma quantia substancial do orçamento familiar é gasta em bens e serviços adquiridos com menor frequência, por exemplo, automóveis e férias. Além disso, certas despesas, como rendas de casa e contas de telefone, são muitas vezes pagas por transferência bancária automática (débitos diretos e ordens permanentes). Por conseguinte, as pessoas prestam normalmente menos atenção a estas despesas e às respetivas variações de preços quando pensam na inflação.
  • Inflação “pessoal” – O Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) baseia‑se num cabaz médio de bens e serviços, representativo de todas as famílias. Contudo, as famílias sujeitas a uma inflação superior à média poderão estar muito mais cientes disso do que as que beneficiam de uma inflação inferior à média.

    Exemplo: se os preços da gasolina aumentam mais do que os preços de outros bens e serviços, as pessoas que utilizam frequentemente o automóvel poderão “sentir” uma taxa de inflação mais elevada do que a medida pelo IHPC, porque a sua despesa em gasolina é superior à média. Em contraste, para as pessoas que raramente ou nunca utilizam o automóvel, a taxa de inflação “pessoal” é mais baixa.

  • As taxas de inflação são homólogas, mas a nossa memória é mais remota – O IHPC é habitualmente apresentado como uma taxa de crescimento homóloga, ou seja, o nível geral de preços em determinado período, por exemplo, janeiro de 2021, é comparado com o do mesmo período um ano antes, isto é, janeiro de 2020. A perceção da inflação das pessoas tende a fundar‑se em preços de há vários anos. Com o tempo, os preços têm tendência a aumentar substancialmente, mesmo que a taxa de inflação homóloga seja baixa. Por exemplo, se a taxa de variação homóloga do IHPC for 2%, passados 10 anos, o nível geral de preços terá aumentado mais de 20%.
  • Variações de preços face a variações da qualidade – É frequente considerar‑se o aumento do preço de um produto como inflação. Todavia, por vezes, a qualidade do produto também varia. O IHPC tem em conta este facto subtraindo a variação decorrente da qualidade.

    Exemplo: os preços dos automóveis poderão ter subido, mas, muitas vezes, os novos modelos incluem, como características básicas, elementos anteriormente vendidos como extras (por exemplo, sistemas de navegação por satélite, ar condicionado e airbags). Nesses casos, o aumento de preço deve‑se, em parte, a um aumento da qualidade e não apenas à inflação. Se, por exemplo, os preços dos automóveis subissem, em média, 5%, mas os aumentos de qualidade representassem 1%, então o IHPC refletiria um aumento de 4% desse produto.

Explora os dados

Inflação dos preços no consumidor na área do euro desde 1961

Nas décadas de 1970 e 1980, a inflação era elevada em muitos países europeus. Porém, desde meados da década de 1990, as taxas de inflação têm sido marcadamente mais baixas graças às medidas preparatórias dos países para o lançamento do euro e à política monetária do BCE.

Muito recentemente, as taxas de inflação registaram aumentos significativos, sobretudo devido à subida acentuada dos preços dos produtos energéticos e dos produtos alimentares.

O que está a impulsionar a taxa de inflação mais recente?

Nem sempre são os produtos cujos preços mais variam que têm o maior impacto no índice. A taxa de inflação depende igualmente da percentagem de cada produto na despesa de consumo média das famílias – por outras palavras, depende do “peso”, ou seja, da ponderação dos vários produtos.

Explora os últimos dados com esta apresentação interativa da inflação

Verifica os dados mais recentes e dados históricos que remontam a 1996. Examina países específicos e analisa os diferentes grupos de produtos. Quando se selecionam certos elementos, a evolução da inflação ao longo do tempo é ilustrada através de uma animação, mês após mês.

Como a inflação influencia nos preços?

A principal consequência da inflação é a perda do poder de compra ao longo do tempo, com o aumento dos preços das mercadorias e a desvalorização da moeda. Outra consequência está associada ao rendimento real em investimentos.

Qual a inflação acumulada de 2022?

Em 2022, o IPCA acumula alta de 4,70% e, nos últimos 12 meses, o acumulado caiu para 6,47%.

Qual é o país com a maior inflação do mundo?

O Brasil ocupa a 14ª posição no ranking que mede as maiores inflações entre os países do G20. A lista, feita pela consultoria Austin Rating, traz Turquia em primeiro lugar, com 83,5% no acumulado de 12 meses, seguido pela Argentina (83%) e Rússia (13,7%).

Por que a inflação está alta 2022?

O primeiro é o repasse da inflação deste ano para os preços de 2023. O outro é o efeito da base de comparação, já que a redução do ICMS de energia, combustíveis e telecomunicações achatou os preços desse grupo em 2022. Outro impacto será a volta da cobrança do PIS/ Cofins sobre combustíveis.