Quem influenciou a Gestalt e a psicologia humanista?

HUMANISMO E GESTALT-TERAPIA

O humanismo é um movimento que se inicia no século XV com a ideia renascentista de dignidade do homem, considerando-o como centro do Universo. A visão humanista não rompe a relação entre homem e natureza, mas considera o homem um ser natural diferente dos demais, afinal é racional e livre, sendo assim, agente ético, político, técnico e artístico (CHAUI, 2000). Neste momento histórico, começa uma mudança de perspectiva, onde o foco de estudo e preocupação deixa de ser os Deuses e a natureza e passa a ser o humano.

Tempos depois, por volta das décadas de 1950 e 1960, a psicologia se apropria da concepção humanista, utilizando seus conceitos e forma de compreensão do ser humano na atuação psicológica e no embasamento de diversas abordagens. Surge então essa terceira via em contrapartida com o Behaviorismo e a Psicanálise.

A Gestalt-terapia é

uma das

abordagens consideradas humanista, que por sua vez, faz uso dos princípios do humanismo no fundamento de seu conceito de pessoa. Assim o humanismo se apresenta como uma filosofia de base da Gestalt-terapia.

Uma das principais características do humanismo que embasam a Gestalt-terapia (GT) é a admiração e apreço pelo ser humano, uma visão positiva deste ser, como alguém que sempre busca progredir e se aperfeiçoar. Este princípio também fundamenta a visão de patologia dentro da GT, onde acreditamos na sabedoria organísmica e consideramos as “doenças” como ajustamentos criativos, ou seja, a melhor forma que o indivíduo encontrou de lidar com determinada situação, que passa a ser patológico quando provoca sofrimento. Esse sofrimento é gerado muitas vezes, devido ao ajustamento criativo tornar-se desatualizado ou cristalizado, ou seja, foi útil em algum momento passado, mas passa a não ser mais.

Segundo a teoria humanista o ser humano é o senhor de si mesmo, cada pessoa é única, singular e deve ser respeitada dentro desta visão.  Essa teoria reconhece a totalidade do ser humano, como um ser formado de alma e corpo, assim sendo uma totalidade harmoniosa pertencente ao universo (RIBEIRO,2011).

O humanismo considera o ser humano como destinado a viver no mundo e dominá-lo, entretanto a Gestalt-terapia não mantém a visão de que o ser humano deve dominar o mundo, pois considera o homem criatura do Universo,  compelindo a ele ser o seu guardião e defensor (RIBEIRO,2011).

Em Gestalt-terapia consideramos o ser humano como pessoa-universo, de forma que não é possível compreender o universo e o ser como algo separado, já que somos pessoas-no-universo. Pensar o ser humano fora deste universo, não é realmente possível, a não ser através de uma abstração teórica, mas nunca a partir de uma prática.

Ênio Brito Pinto (2009) apresenta que, a partir das raízes do humanismo, a Gestalt-terapia não nega o trágico da vida, mas privilegia o belo e positivo do ser humano, enfatizando seu potencial criativo e transformador, o considerando um ser de possibilidades. Desta forma, a visão humanista enfatiza a condição do homem, de ser inacabado e imperfeito, entretanto destacando sua capacidade de se aperfeiçoar.

Nesta perspectiva o ser humano é visto como um eterno vir-a-ser. Assim, todo ser é dotado de potencial que, por sua vez, precisa ser descoberto, atenciosamente olhado e cuidadosamente desenvolvido.

REFERÊNCIAS

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

PINTO, Ênio Brito. Psicoterapia de curta duração na abordagem gestáltica: Elementos para a prática clínica. 2. ed. São Paulo: Summus, 2009.


RIBEIRO, Jorge Ponciano. Conceito de mundo e de pessoa em Gestalt-terapia: revisitando um caminho. São Paulo: Summus, 2011.

Psicologia? Psicanálise? Behaviorismo? Gestalt-Terapia? Perls? Skinner? Freud? Como é estruturado o saber psicológico? O que é o que?

O texto de hoje visa explanar sobre as chamadas 3 Grandes Forças em Psicologia, a fim de traçar uma organização teórica e cronológica acerca do behaviorismo, psicanálise e das linhas humanistas-existenciais.

A Psicologia enquanto ciência

Wundt e estudantes de psicologia em Leipzig

1879 é considerado o ano de nascimento da psicologia. Naturalmente que já se falava de psicologia e de temas como mente, comportamento, felicidade, sofrimento, percepção, inteligência, emoção, saúde, doença, entre outros tópicos basilares, desde a antiguidade, porém, 1879 é o ano em que W. M. Wundt (1832-1920) funda o 1º laboratório de psicologia experimental (Psychologische Institut, na Universidade de Leipzig – Alemanha). É a partir dessa data que a psicologia começa a criar um campo de conhecimento próprio, com metodologia própria e separada do saber filosófico.

Esta ciência tem de investigar os fatos da consciência, suas combinações e relações, de tal modo que possam, finalmente, descobrir as leis que governam tais relações e combinações.

(Wundt, 1912/1973, p. 1)

Os primeiros psicólogos experimentais (além de Wundt vale citar Ernst Heinrich Weber [1795-1878] e Gustav Theodor Fechner [1801-1889]) se debruçaram sobre temas como consciência, introspecção, sensação e percepção, limiares de percepção, atenção e emoções, por exemplo e utilizaram, principalmente, técnicas da chamada psicometria e psicofísica, para analisar e medir esses fenômenos.

A partir dessas investigações surgem ramificações, movimentos e escolas próprias como o estruturalismo, o funcionalismo, o behaviorismo (1ª grande força), a psicanálise (2ª grande força) e a psicologia humanista-existencial (3ª grande força). Essas correntes psicológicas são arcabouços teórico-práticos que influenciam a forma com que o psicólogo compreende e intervém sobre as questões humanas.

1ª Grande Força em Psicologia: o Behaviorismo

(Skinner, Watson e Pavlov com um cão, respectivamente)

O behaviorismo (ou comportamentalismo) nasce como uma crítica ao introspeccionismo e às teorias mentalistas (como a psicanálise), isto é, quando o indivíduo busca acessar, se conscientizar e relatar seus estados internos. Para os behavioristas, o introspeccionismo é falho e, além de fornecer informações errôneas, afasta a psicologia do seu verdadeiro objeto de estudo – o comportamento.

O problema mentalista pode ser evitado com procurarmos diretamente as causas físicas anteriores, desviando-nos dos sentimentos ou estados mentais intermediários. A maneira mais rápida de fazer isto consistem em limitarmo-nos àquilo que um dos primeiros behavioristas, Max Meyer, chamou de “a psicologia do outro”; considerar apenas aqueles fatos que podem ser objetivamente observados no comportamento de alguém em relação com a sua história ambiental prévia. Se todas as ligações são lícitas, não se perde nada por desconsiderar uma ligação supostamente imaterial.

(Skinner, 1974/2006, p. 16)

Dessa forma, essa corrente da psicologia se debruçou sobre o que pode ser observado e mensurado diretamente, isto é, o ambiente e o comportamento da pessoa, ou seja, as contingencias ambientas e comportamentais (estímulos anteriores e posteriores referentes à uma ação).

Podemos entender estímulo como “uma alteração detectável no meio em que o indivíduo está inserido” (Lombard-Platet, Watanabe & Cassetari, p. 37, 2008), o que compreende, por exemplo, alterações na luminosidade, temperatura, sons, cheiros e qualquer coisa captada pelos órgãos sensoriais. O comportamento, em um primeiro momento, tem ser uma ação observável e mensurável, isto é, o behaviorista não analisa o “sofrer” ou a “diversão”, mas pode analisar, em intensidade e frequência, o chorar, a diminuição da fala, a mudança na postura, o gritar, o sorrir, o pular, o correr…. Também falamos de comportamentos involuntários (respondentes, como alteração de pupila, sudorese, salivação, erubescer…) e voluntários (operantes, como acender a luz, pegar uma revista, andar até a padaria…). De uma forma resumida, os comportamentos involuntários são eliciados pelos estímulos antecedentes (condicionamento clássico, pavloviano ou respondente) enquanto os comportamentos voluntários são emitidos, reforçados, punidos ou extintos pelas suas consequências – o estímulo posterior (condicionamento operante). Com o avanço da corrente behaviorista passou-se a falar também dos chamados comportamentos encobertos, isto é, aqueles que não são observados diretamente por outrem (como pensar, sonhar, imaginar…). É importante dizer também que seu desenrolar/legado fez nascer a TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental.

Autores do Behaviorismo

Os 3 principais e “clássicos” autores do behaviorismo são I. Pavlov (1849-1936), responsável pela descoberta do comportamento respondente; J. B. Watson (1878-1958), considerado o fundador da corrente, pai do behaviorismo metodológico e famoso pelo experimento do pequeno Albert; e B. F. Skinner (1904-1990), pai do behaviorismo radical, que ampliou as “Leis do Efeito” (de E. L. Thorndike) enquanto compreensão do comportamento operante, grande autor sobre processo de aprendizagem, criador da Caixa de Skinner, famoso pelos experimentos e demonstrações com ratos e pombos.

2ª Grande Força em Psicologia: a Psicanálise

(Representação da compreensão Freudiana sobre o aparelho psíquico humano: 1ª e 2ª tópica)

Aqui temos o papel do influente Sigmund Freud (1856-1939) e a importância da vida psíquica inconsciente, onde emergem temas como psicossomática, desenvolvimento psicossexual, neurose, histeria, mecanismos de defesa, sonhos, desejos e censuras. A psicanálise nasce na psicologia e dialoga, principalmente, com a psicologia clínica, todavia, hoje ela está para além da questão clínica, aparecendo como uma forma de estudar os aspectos dinâmicos da sociedade, economia, política e pensamento. Dessa forma, hoje temos muitos psicanalistas que não são psicólogos, mas possuem formação básica em filosofia, sociologia, medicina, letras e outras graduações. Falamos também de psicanálises, isso pois se trata de uma das linhas teórico-práticas que mais apresentam diferenças conceituais e intervencionistas de autor para autor, o costuma causar confusões naquilo que diz respeito às compreensões iniciais na temática. Mas, independente das diferenças do psicanalista em questão e como ele vai compreender aspectos do psiquismo, as psicanálises se aproximam quando compreendem um processo de conhecimento/tratamento/cura que, necessariamente e para sua efetividade, precisa passar pelo outro. Isto é, só sei de mim, pelo outro – e sobre essa questão específica, recomendo o seminário A Utopia do Autoconhecimento, veiculado no Café Filosófico, por Ricardo Goldenberg.

As psicanálises também costumam compartilhar a questão da transferência, isso é, padrões específicos relacionados às relações interpessoais passadas que direcionam a forma como a relação presente se manifesta e se estabelece – a transferência diz sobre seu portador e seu manejo pode ressignificar/resolver conflitos reprimidos. A noção da influência dos processos inconscientes também é basilar sobre o discurso do sujeito (discurso aqui, não compreende apenas a fala).

Digamos que alguém — um paciente em análise, por exemplo — nos relata um de seus sonhos. Nós supomos que desse modo ele faz uma das comunicações que se comprometeu a fazer iniciando um tratamento psicanalítico. Uma comunicação com meios inadequados, é certo, pois o sonho não é uma expressão social, um meio de entendimento. Não compreendemos o que ele quer dizer, e ele próprio não sabe o que é. Então temos que tomar rapidamente uma decisão: ou o sonho, como nos asseguram os médicos que não são psicanalistas, é um indício de que a pessoa dormiu mal, de que nem todas as partes do seu cérebro descansaram igualmente, de que alguns pontos quiseram continuar trabalhando, sob a influência de estímulos desconhecidos, e só puderam fazê-lo de modo bastante incompleto. Se assim for, será correto não nos ocuparmos mais do produto — psiquicamente sem valor — da perturbação noturna; pois o que tal pesquisa traria de útil para nossos propósitos? Ou então — percebemos que desde o início já decidimos de outra forma. Fizemos o pressuposto, adotamos o postulado — bem arbitrariamente, deve-se admitir — de que também esse sonho incompreensível teria de ser um ato psíquico inteiramente válido, de sentido e valor plenos, que podemos usar como qualquer outra comunicação na análise.

(Freud, 2010 pp. 95-96)

O clínico Freud foi influenciado, principalmente, por J.-M. Charcot (1825-1893), com quem aprendeu sobre histeria e hipnose, e J. Breuer (1942-1925) com quem estudou o método catártico (a cura pela fala). Sua obra é grande, estruturada e desenvolve o nascimento da psicanálise por meio de contato com outros saberes (biologia, física e literatura) e por meio dos processos de análise clínica e da autoanálise do próprio Freud.

Durante muito tempo, o aspecto mais conhecido e discutido da obra de Freud era o da teoria da libido, que ele elaborou inspirado nos modelos da eletrodinâmica ou da hidrodinâmica vigentes na ciência da época. Assim, o conceito de libido, que Freud concebeu como sendo a manifestação psicológica do instinto sexual, recebeu sua origem na tentativa de explicar fenômenos, tais como os da histeria, que Freud explicava como sendo resultantes do fato de que a energia sexual era impedida de expandir-se através de sua saída natural e fluía, então, para outros órgãos, ficando restringida ou contida em certos pontos e manifestando-se através de sintomas vários. Freud chegara à conclusão de que as neuroses, como a histeria, a neurose obsessiva, a neurastenia e a neurose de angústia (fobia), teriam sua causa imediata no aspecto “econômico” da energia psíquica, ou seja, num represamento quantitativo da libido sexual.

(Zimerman, 2007, p.23)

Autores da Psicanálise

Para além do próprio Freud, podemos citar a influência de nomes como J. Lacan (1901-1981), que propôs um retorno sistemático à obra de Freud e a relacionou com os saberes da antropologia, linguística e estruturalismo, além de ter desenvolvido conceitos como Real, Simbólico e Imaginário; M. Klein (1882-1960), expoente da chamada “escola inglesa de psicanálise” foi uma das primeiras psicanalistas a atender crianças e sua contribuição se dá, principalmente, na compreensão dos componentes e fenômenos associados à vida psíquica primitiva; D. Winnicott (1896-1971) que abordou o papel do ambiente-cuidador para com o desenvolvimento emocional do sujeito e trouxe, entre outros, os conceitos de criatividade primária e tendência antissocial.

3ª Grande Força em Psicologia: a Psicologia Humanista-Existencial

Como uma reação ao behaviorismo e à psicanálise, a partir da segunda metade dos anos 1950 (e ganhado maior desenvolvimento e destaque durante as duas décadas posteriores), surge a 3ª Força. Contrária a uma visão determinista do homem (seja pela questão dos condicionamentos comportamentais ou pelo determinismo do inconsciente), ela valoriza a experiência consciente e trabalha com tópicos como: livre arbítrio; autorrealização; criatividade; esperança; potencial; sentido; contato; decisão; congruência; responsabilidade; entre outros…

(Abraham Maslow)

Seu fundador é considerado A. Maslow (1908-1970), famoso por desenvolver a “pirâmide hierárquica das necessidades básicas” e quem primeiro cunhou o termo “psicologia positiva“, em uma contraposição à chamada “psicologia negativa” – tradicional e focada na doença, no transtorno, no sofrimento e em seu tratamento/cura. Dessa forma, a Psicologia Humanista incorporou a visão de homem e mundo referente aos movimentos intelectuais do humanismo, do existencialismo e da fenomenologia. Dentro dela, vamos encontrar abordagens distintas como a Gestalt-Terapia, a Abordagem Centrada na Pessoa, ou a Logoterapia, por exemplo, onde cada uma tem suas particularidades clínicas e acabam por se aproximar mais do humanismo ou do existencialismo, a depender da linha téorico-prática, mas todas fazem parte da 3ª força que, segundo Schultz & Schultz (2008), integra os seguintes pontos essenciais:

  1. uma ênfase na experiência consciente;
  2. uma crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano;
  3. a concentração no livre-arbítrio, na espontaneidade e no poder de criação do indivíduo;
  4. o estudo de tudo o que tenha relevância para a condição humana.

Dentre as abordagens clínicas dessa corrente psicológica, aquela que mais me identifico e acabei por estudar é a Gestalt-Terapia (não confundir com Psicologia da Gestalt). Essa abordagem é sempre uma terapia do contato e seu manejo é pautado no aqui-agora, sendo que a relação terapeuta-paciente funciona do ponto de vista dialógico, onde o terapeuta confronta e frustra o paciente que tenta se esquivar ou fugir do seu contato e experiência com o presente. A fenomenologia pauta o setting clínico e, desta forma, a interpretação não é adequada, mas sim a descrição. A farsa, as atuações e as incongruências não se sustentam na Gestalt-Terapia, uma vez que são valorizadas e validadas as experiências mais espontâneas e verdadeiras de alguém.

Gestalt-terapia é uma das forças rebeldes, humanistas e existenciais da psicologia, que procura resistir à avalanche de forças autodestrutivas, autoderrotistas, existentes entre alguns membros de nossa sociedade. Ela é “existencial” num sentido amplo. […] Nosso objetivo como terapeutas é ampliar o potencial humano através do processo de integração. Nós fazemos isto apoiando os interesses, desejos e necessidades genuínas do indivíduo.

(Perls, 1977, p.19)

A Gestalt-Terapia deve ser experimentada para melhor compreensão – ela não se basta enquanto teoria. Caso tenha curiosidade em saber como é uma sessão com abordagem gestáltica, recomendamos que participe de uma 😉 E recomendamos também que assista um, das várias sessões gravadas, com F. Perls – pai da GT. (após esse vídeo, colocamos também um atendimento de Carl Rogers, com a mesma mulher, para finalidades didáticas e comparativas).

Autores da Psicologia Humanista-Existencial

Como já foi dito antes, há abordagens mais humanistas e outras mais existenciais. C. Roger (1902-1987) pai da Abordagem Centrada na Pessoa e dos Grupos de Encontro, estudou sobre o crescimento pessoal, as relações interpessoais e os processos experienciais; F. Perls (1893-1970) ex-psicanalista, pai da Gestalt-Terapia, contribuiu naquilo que diz respeito à visão holística sobre o indivíduo, sobre o papel do terapeuta na conscientização das incongruências, bem como sobre as dificuldades da pessoa em experienciar e desfrutar do presente. V. Frankl (1905-1997), pai da Logoterapia, tem uma abordagem mais existencialista que se relaciona com a temática do sentido da vida – que começou a ser desenvolvida quando esse foi prisioneiro em um campo de concentração nazista.

Referências

Freud, S. (2010). O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos (1930-1936). São Paulo: Companhia das Letras.

Lombard-Platet, V. L. V.; Watanabe, O. M. & Cassetari, L. (2008). Psicologia experimental: Manual teórico e prático de análise do comportamento. São Paulo: Edicon.

Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2008). História da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning.

Skinner, B. F. (1974/2006). Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix

Stevens, J. O. (Perls, F. et al.) (1977). Isto é Gestalt. São Paulo. Summus.

Wundt, W. (1912/1973). An introduction to psychology. Translation R. Pintner. London: George Allen & Company, Ltd.

Zimerman, D. E. (2007). Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.

Por Caio Ferreira

Muitas pessoas confundem a Psicologia da Gestalt com a Gestalt-Terapia (Gestalt Therapy) e outras tantas pessoas nem sequer sabem que existe essa abordagem em psicoterapia. Sendo assim, buscarei, no aqui e agora, desmistificar algumas dessas confusões e apresentar os principais fundamentos desta corrente psicológica, além de sugerir, no final, um vídeo exemplificativo com uma sessão. Faço questão de dizer que a explicação que virá, faz parte de como a Gestalt se apresenta para mim neste momento e como eu a sinto agora enquanto escrevo este texto.

Psicologia da Gestalt X Gestalt-Terapia

Primeiramente, Gestalt é uma palavra alemã de difícil tradução para o português, mas que guarda relação com os conceitos de forma ou configuração e a psicologia da Gestalt é, portanto, uma teoria que apresenta leis da boa forma. Leis estas, desenvolvidas por Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1940), que preocuparam-se em criar sólidos conceitos para que a Psicologia da Gestalt ganhasse consenso internacional e essa, de fato, é ainda hoje, uma das teorias da psicologia que menos ganhou controversas, contradições ou “polêmicas”.

Uma das principais visões dessa teoria é a noção de que “o todo é maior que a soma das partes”, que pode ser visto nos exemplos de imagens abaixo, que apresentam, respectivamente o Cubo de Necker e o Vaso de Rubin (este, contemplando também o conceito de “figura e fundo”).

Alguns dos fundamentos da psicologia da gestalt foram incorporados, por exemplo, às artes, à publicidade, ao design e também à Gestalt Terapia (como a noção de figura-fundo) que é para aonde estamos caminhando.

(CC BY 4.0)

As Influências da Gestalt-Terapia

Essa abordagem teve influências da psicanálise, da psicologia da Gestalt, da teoria de campo (Kurt Lewin [1890-1947]), , do Humanismo (Martin Bubber [1878-1965]), dos aportes filosóficos da fenomenologia (Edmund Husserl [1859 – 1938]) e do existencialismo (Jean Paul-Sartre [1905-1980] e Maurice Merleau-Ponty [1908-1961]), além de contribuições vindas do zen-budismo e da teoria organísmica (Kurt Goldstein [1878-1965]), por exemplo.

Slide utilizado durante o curso Psicologias: Introdução aos seus Principais Pensadores e Teorias, que ocorreu em 19/10/2019 e apresentou a Gestalt-Terapia aos participantes.

A Gestalt-Terapia

É uma corrente pertencente ao chamado 3ª Grande Força em Psicologia (humanista-fenomenológico-existencial), como uma reação ao behaviorismo à psicanálise. Foi desenvolvida, no pós-guerra, pelo “Grupo dos Sete”, onde se encontrava Friederich Salomon Perls (1893-1970), mais conhecido como Fritz Perls. Esse grupo foi composto, originalmente, por Fritz Perls, Laura Perls, Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz, Sysvester Eastman e Elliot Shapiro, onde, posteriormente, houve a entrada de Ralph Hefferline .

Em resumo, esta corrente da psicologia apresenta um modelo de psicoterapia do contato, da consciência e da relação dialógica, que vê o indivíduo de forma holística (sem separação entre mente e corpo, por exemplo), onde o psicoterapeuta acredita, pelas bases do existencialismo, nos potenciais que o cliente dispõe, para alcançar a experiência significativa positiva, criativa, proveitosa e de responsabilidade para com o seu mundo.

“Diferentemente da dialética, que pretende alcançar uma síntese racional, a dialógica se propõe a ficar com aquilo que é figura na relação terapeuta cliente”

(Ribeiro, 2007, p. 4)

De acordo com Hall e Lindzey (1973) “o dogma principal da psicologia gestaltista sustenta que a maneira pela qual um objeto é percebido é determinada pelo contexto ou configuração total em que o objeto está envolvido. A percepção é determinada pelas relações entre os componentes de um campo perceptivo, e não pelas características físicas dos componentes individuais”. O gestalt-terapeuta não interpreta as ações do seu cliente, mas o convida a entrar em contato com e elas e descrevê-las – busca o fenômeno puro e utiliza de redução fenomenológica.

Vale dizer também que, sobre uma das posturas que acompanham esta abordagem psicoterápica, Perls afirma, em seu texto Gestalt-terapia e potencialidades humanas, contido no livro Isto é gestalt (1977), que “Gestalt-terapia é uma das forças rebeldes, humanistas e existenciais da psicologia, que procura resistir à avalanche de forças autodestrutivas, autoderrotistas, existentes entre alguns membros da nossa sociedade. […] Nosso objetivo como terapeutas é ampliar o potencial humano através do processo de integração”.

Sendo assim, este profissional está, durante a sessão, buscando chamar a atenção e experimentando como ele mesmo e o cliente se portam e se relacionam no momento presente, tendo em vista se este aceita os convites à conscientização – que inclui a atenção aos próprios pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos atuais – ou se este recusa a conscientização, por meio do fuga, do acting out e das incongruências emocionais. Não é raro, por exemplo, que o Gestalt-Terapeuta observe e aponte elementos incongruentes e/ou que caibam desenvolvimento ou amplificação naquilo que diz respeito à comunicação não-verbal do indivíduo e sua atuação não é interpretativa, mas fenomenológica e visa a descrição e a compreensão do fenômeno (aquilo que se manifesta na sessão).

De acordo com o livro Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia (2016), os autores apontam 5 características que acreditam serem adequadas para a boa prática desta, que são:

  • “um foco nas experiências que emergem aqui e agora (por meio da awareness, da fenomenologia e do princípio paradoxal da mudança);
  • um compromisso com uma perspectiva relacional cocriada;
  • a oferta por parte do terapeuta de uma relação dialógica;
  • uma perspectiva teórica de campo;
  • uma atitude criativa e experimental com relação à vida e ao processo terapêutico.”

Perls & Gloria

A fim de ilustrar e exemplificar melhor como pode ser uma prática com esta abordagem, indico a sessão abaixo, que está gravada em vídeo e mostra um encontro de Gloria com Fritz Perls, com legendas em português.

Em 1964, o psicólogo canadense, Dr. Everett Shostrom, produziu uma série de 3 filmes educativos, que trazem 3 renomados psicoterapeutas (Carl Rogers; Albert Ellis; & Fritz Perls), durante uma sessão de 30 min. com uma mulher de 30 anos, chamada Gloria.

Vídeo original do YouTube.

Quer saber mais? Inscreva-se para o próximo Café Psico: Fritz Perls

Referências:

Hall, C. S. & Lindzey, G. (1973). Teorias da personalidade. São Paulo: EPU.

Joyce, P. & Silis, C. (2016). Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia. Petrópolis: Vozes.

Ribeiro, E. C. (2007). A perspectiva de intersubjetividade na abordagem gestáltica. Revista IGT na Rede, v. 4, n° 6, 2007, p.2-5.

Shostrom, E. (1964). Three approaches to psychotherapy.

Stevens, J. O. (Perls, F. et al.) (1977). Isto é Gestalt. São Paulo. Summus.

Por Caio Ferreira

Quem influenciou a Gestalt e a Psicologia Humanista?

É desse base de influências que se pode depreender a visão de ser humano da abordagem gestáltica. O principal criador da Gestalt-terapia foi Frederick Salomon Perls, o Fritz Perls, como ficou conhecido.

Qual filósofo influenciou Gestalt?

Ernst Mach (1838-1916), físico, e Chrinstiam von Ehrenfels (1859-1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e podem ser considerados como os mais diretos antecessores da Psicologia da Gestalt.

O que influenciou a Gestalt

A terapia gestaltica recebe diversas influências, entre as mais marcantes estão: a Psicologia da Gestalt de Max Wertheimer, Wolfang Kohler e Kurt Koffka; a Fenomenologia e a Teoria Organismica de Goldstein.

Quem foi o fundador da Psicologia Humanista?

A psicologia humanista tem origem nos principais pressupostos de Abraham Maslow, instituidor da pirâmide das necessidades. Foi na década de 1950 que Maslow se tornou um dos fundadores e impulsionadores da escola de pensamento da Psicologia Humanista.

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