Qual e o papel do professor nos dias atuais?

A pandemia de covid-19 transformou a forma de ensinar e aprender em todo o planeta. Se em um primeiro momento, estudantes e professores foram desafiados a se adaptar de forma rápida ao ensino online, agora, com o avanço da vacinação e o retorno presencial às salas de aula em diversos países, a questão é como se dará a adaptação a um modelo híbrido.

A tecnologia foi e continuará sendo fundamental, mas o grande desafio para os educadores está na forma de ensinar. Se por muito tempo o ensino esteve focado apenas na transmissão do conhecimento, agora é a interação que ganha espaço e coloca o aluno como um agente ativo da aprendizagem.

“A gente acredita que a aprendizagem passa pelo desejo de aprender. Então, primeiro, você tem de mobilizar o aluno para esse interesse e nada melhor do que a interação para que ele possa se motivar”, afirma a professora Simone Bergamo, diretora acadêmica do grupo Ser Educacional, um dos maiores do ensino privado do país.

Formada em pedagogia, com mestrado em psicologia e doutorado em administração, Simone fez questão de retomar suas funções como professora durante a pandemia, dando aulas online para cursos de graduação e pós-graduação.

Nesta entrevista à Bússola, ela fala sobre a importância da tecnologia, o papel do professor e da importância da motivação que leva ao desejo de aprender.

Bússola: Já é um consenso entre educadores e especialistas que o ensino não será mais o mesmo após as mudanças trazidas pela pandemia. Após um período de aulas totalmente online, agora vem o desafio do ensino híbrido, que mescla o remoto e o presencial. Como o professor se prepara para esse novo cenário?

Simone Bergamo: O professor de hoje tem que ser criativo, um professor que tenha o olhar para reorganizar tudo aquilo que foi construído nesses tempos de pandemia e tirar dessa experiência realmente o essencial, que é a humanização. O professor tem que se preocupar com o processo de ensino e aprendizagem, entender que em alguns momentos é preciso reorganizar as atividades pensando no grupo que vai encontrar. Ele tem que ser engajado, ter expertise no conteúdo e a própria competência para aliar tudo isso. Criatividade, engajamento, reciprocidade, reconhecer o aluno como sujeito, e o contexto em que ele está inserido, são itens fundamentais.

Quais foram os principais desafios na pandemia para os educadores?

A gente ouviu muito que a pandemia acelerou processos, e isso é verdade. Na Ser Educacional, o ensino a distância (EAD) já era uma realidade e, quando veio a pandemia, já tínhamos aplicativos, ferramentas que faziam parte do processo de ensino, montamos oficinas, criamos manuais. Montamos várias opções para que o professor pudesse ter a quem recorrer naquele momento que ele precisava. Acho que essa parte foi a que menos deu problema.

A gente já vinha tratando essas metodologias de uma forma bem acirrada e isso tornou possível a adaptação maior ao ensino remoto. E nos perguntamos muito sobre como fazer com que essa aprendizagem acontecesse de forma mais harmônica. Então, a primeira coisa foi buscar a interação e fazer com que cada vez mais o aluno se tornasse um agente ativo da aprendizagem. Então, a primeira coisa foi buscar uma forma de aprimorar o processo de interação que já existia e motivar o aluno a se envolver ainda mais com a sua aprendizagem. E eu mesma fiz questão de ser professora nesse momento, para poder sentir na pele essa mudança de ambiente.

E como foi essa experiência de voltar às salas de aula (de forma remota) nesse contexto?

Mesmo sendo professora há bastante tempo, é importante que a gente vivencie essa situação, para que não fique a teoria pela teoria. Estar conectado com o aluno por um tempo, com as carinhas fechadas, numa sala fechada, faz com que você busque atividades interativas. A gente acredita que a aprendizagem passa pelo desejo de aprender. Então, primeiro, você tem que mobilizar o aluno para esse interesse e nada melhor do que a interação para que ele possa se motivar.

Em uma aula de pós-graduação, por exemplo, fiz uma atividade com um gráfico e propus que os alunos escolhessem uma resposta e aí eles tinham de convencer os colegas do porquê aquela era a alternativa correta. E aí eles podiam fazer isso por Whatsapp, por Direct, usando o Teams. E foi muito interessante. Após um tempo, chamei a turma de volta à sala e eles mandavam mensagem no chat dizendo: “Peraí, professora” ou “Simone, me dá mais um tempinho, só está faltando um”. Com essa metodologia ativa, e com as facilidades das ferramentas nesse ambiente, é possível planejar inúmeras ações desse tipo.

Além dessas metodologias e das ferramentas, o que mais é necessário ao professor?

É fundamental conhecer o grupo de alunos com o qual você está trabalhando. Não é conhecer na íntegra cada um deles, mas entender o contexto socioeconômico em que estão inseridos, para que você possa mobilizá-los a partir de interesses próprios. Se não me inteirar disso, e aí independe se estou falando com a geração Y ou Z, preciso planejar algo que faça com que quem vai me ouvir se interesse pelo objeto do conhecimento.

Levando isso em consideração, e com um ensino remoto, os conteúdos são cada vez mais adaptáveis e personalizáveis, não?

O que a gente trabalha com os nossos professores? A importância de buscar essa interação. E acho que a maior competência do professor nesse momento, na pandemia, foi se reinventar, reorganizar, replanejar. Não é porque meu planejamento do semestre está pronto que eu não vou replanejar e reorganizar, caso se perceba que falta alguma coisa de interesse, de motivação naquela aula.

Também não tenho dúvidas de que é fundamental utilizar as ferramentas que fazem parte da vida dos alunos. Quando dava aula na pós-graduação, chegava perto dos alunos e dizia: “Gente, olha só, vamos começar, olha o celular”. E não tinha uma vez que eu não escutasse: “Já sei, ela vai mandar guardar!”. E eu falava: “Olha o celular e inicia que a gente vai abrir por ele”, e ficavam todos me olhando. Porque, naquela época, a primeira coisa que o professor fazia era mandar guardar o celular. Como é que eu tiro o celular de um aluno que tem ele como parte da própria vida? É bobagem, é não querer se aproveitar do que tem de mais próximo da realidade dele.

Hoje todo mundo utiliza realmente a tecnologia, mas naquele momento eu queria mostrar que nós, educadores, acreditamos que o aluno aprende interagindo com o objeto do conhecimento, interagindo com questões que fazem parte da vida dele. Então, isso a gente conseguiu passar. Com a pandemia, quando a gente percebe que o professor tem esse compromisso, quando ele realmente lida com questões tanto relacionadas ao contexto quanto com metodologias ativas, ele possibilita ao aluno a verdadeira aprendizagem significativa.

Como a Ser Educacional está se planejando para o possível retorno às aulas presenciais?

Na Ser Educacional, respeitamos as legislações locais nesse sentido. O ensino a distância teve um crescimento e a porcentagem foi ampliada pelo Ministério da Educação já em 2019 e dentro desse cenário vamos incorporar ações, mas sempre respeitando também as especificidades dos cursos. Vamos ampliar o Ubíqua, que reuniu todos os nossos projetos em ambiente virtual, mostrando que podemos levar educação para todo lugar, em diversos ambientes de aprendizagem. Se disponibilizou diversos ambientes de aprendizagem, possibilitou a construção de várias competências diferentes.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Qual e o papel do professor nos dias de hoje?

Com isso, se antes o docente era mestre, detentor e transmissor do conhecimento, hoje a relação se modifica: o papel do professor na atualidade é o de mediador do conhecimento, aquele que acompanha e orienta seu estudante no próprio processo de aprendizagem.

Qual o papel do professor atual na educação?

Ele deve ser um mediador, facilitador e articulador do conhecimento e não apenas aquele que detém a informação. Ele deve atuar como um pesquisador, que provoca o aluno a ser também curioso e descobrir a partir de seus próprios questionamentos. Deve convidar o estudante a ver a realidade como seu objeto de estudo.

Quais são os maiores desafios de ser professor nos dias atuais?

Quais são os maiores desafios de ser professor nos dias atuais?.
Alunos completamente conectados. ... .
Dificuldade de engajamento. ... .
Diferentes perfis em sala. ... .
Necessidade de diversificar as atividades. ... .
Adaptação a diferentes formas de ensino. ... .
Desvalorização da profissão. ... .
Paciência. ... .
Empatia..

Toplist

Última postagem

Tag