Qual a importância do ambiente alfabetizador na construção da leitura e escrita?

Afinal, o que vem a ser “ambiente alfabetizador”?

Disciplina:

Língua Portuguesa/Literatura

Ciclo: Ensino Fundamental – 1ª a 4ª
Assunto: Organização da prática de alfabetização
Tipo: Metodologias

Houve um tempo em que se afirmava que, para a aprendizagem da leitura e da escrita, era fundamental um “ambiente alfabetizador” efetivo. Por isso, compreendia-se que as paredes das salas de aula deveriam estar repletas de cartazes com textos e palavras escritas, que nos objetos da sala deveriam ser anexadas grandes etiquetas de identificação.

Inicialmente, os escritos expostos nas paredes costumavam ser famílias silábicas diferenciadas, cartazes de dupla entrada com vogais e consoantes que se combinavam e formavam as sílabas, palavras-chave das lições da cartilha.

Posteriormente, a eles foram acrescentados rótulos, letras de cantigas populares conhecidas dos alunos, crachás com os nomes dos alunos, listas dos alunos presentes.

Afirmava-se que a “leitura incidental” dos escritos fixados nas paredes faria com que os alunos, pela exposição constante, aprendessem a ler e a escrever.

Se isso fosse verdade, nas grandes metrópoles não haveria analfabetos, dada a quantidade de textos verbais impressos aos quais os sujeitos estão expostos diariamente.

Qual seria, então, o equívoco dessa concepção?

A questão fundamental está centrada no seguinte fato: não é a simples exposição ao escrito que faz com que se compreenda o sistema de escrita, mas a participação em práticas de leitura e escrita, nas quais se pode observar um leitor e escritor proficiente lendo e escrevendo, a quem se pode perguntar sobre as práticas de linguagem, e que pode informar sobre a escrita e o escrito.

Assim, um ambiente alfabetizador não pode ser compreendido apenas como um lugar com muitos escritos expostos, mas um lugar onde se pratica a leitura e a escrita, onde se podem fazer perguntas a respeito do funcionamento, da organização, das funções e tudo mais que as crianças queiram saber sobre esse sistema.

O educador, por meio de propostas pedagógicas, ajuda seus alunos a encontrarem respostas para suas dúvidas, a praticar e a pensar sobre a escrita. A exposição só faz sentido se puder informar sobre a escrita e seus usos sociais efetivos.

Um ambiente alfabetizador, nessa perspectiva, não é simplesmente um lugar onde se expõem cartazes com textos, famílias de sílabas, mas onde os alunos participam das práticas de linguagem: lêem livros de contos de fadas, jornal, textos científicos ou referenciais; escrevem regras de jogos, cartas para alguém, registram suas atividades.

Texto original: Kátia Lomba Bräkling
Edição: Equipe EducaRede

(CC BY-NC Acervo Educarede Brasil)

Você se lembra de quem é o “terceiro educador”?

Assim como se reconhece a importância dos espaços ambientados na construção de aprendizagens e de melhor aproveitamento das potencialidades e individualidades das crianças, e da construção das relações interpessoais e sociais, também podemos identificar como absolutamente válida a participação dos ambientes nos processos de alfabetização.

A partir das possibilidades ofertadas pelos ambientes, desde que planejados por educadores também potentes e atentos, maiores serão as aproximações das crianças com os recursos nele contidos e, por consequência, o desenvolvimento voluntário de práticas e vivências que evidenciem e favoreçam a alfabetização.

Mas acredite, não se trata de espalhar cartazes e fichas com as letras e nomes próprios pelas paredes da escola e estará construído um ambiente alfabetizador. É necessário partirmos do princípio de que a criança é sujeito ativo em suas aprendizagens para permitirmos sua mais completa interação com o ambiente. É preciso fazer sentido. 

Ler e escrever como prática cotidiana

Ainda antes do pensamento na elaboração física do ambiente, é importante refletir no conceito imaterial da prática. O convívio com a escrita e a leitura em movimentos diários agrega interesse,  importância e desenvolvimento no próprio processo. 

Seja para apropriar-se das primeiras letras ou, ainda mais adiante siga se aproximando da escrita do próprio nome ou de seus colegas, a interação reiterada é quem vai garantir o protagonismo da criança em seus processos de aprendizagem e construção de conhecimento.

A partir do momento em que é dado o “start” neste interesse legítimo e genuíno de aproximação com os processos de alfabetização, a criança passa a comparar sons e grafemas, inicia reflexões sobre a escrita e passa a utilizar modelos de escrita de novas palavras que serão agregadas aos contextos. 

A importância das ações participativas

Outro importante pilar na construção de ambientes alfabetizadores é fazer com que haja interação direta das crianças com quaisquer que sejam as ações propostas. Para que as letras, números ou as escritas expostas de alguma forma sejam acessíveis em propostas que façam sentido em suas vivências.

       

Fotos: Escola Semear

Vamos elencar algumas dicas que podem inspirar nossa criatividade:

  • Que tal construir um varal de letras e números, em altura que permita o manuseio livre pelas crianças para que alterem a partir de seus interesses? 
  • E o que acha de fazer uso de calendários para aproximação deles com os números e com o conceito do correr dos dias? Bem como com a escrita estável dos dias da semana e mês vigente.
  • Já pensou em deixar com que façam a lista de presença permitindo a escrita de seus próprios nomes e o contato com a escrita dos nomes de seus pares?
  • Não seria interessante também deixar à disposição encartes de jornais (há jornais especializados em crianças, sabia?), revistas infantis e gibis para que o acesso à leitura ocorra em diferentes suportes?
  •  Quem sabe também deixar à disposição das crianças os textos que fizeram parte das leituras compartilhadas, para que possam retomar quando desejarem?
  • E a elaboração de um chaveiro com palavras escolhidas e consideradas importantes para as crianças? Um chaveiro exclusivo e singular com palavras que carregam sentido e afeto. 
  • E que tal um painel com as tarefas coletivas fixado em algum ponto visível na sala e fichas móveis para compor a organização diária? 
  • Cartazes envolvendo o projeto que acompanha a sala no momento também são bem-vindos, sabia? Por exemplo: Se o  estudo atual envolve  as folhas do jardim, vamos montar um cartaz com o nome das folhas e aproximar as crianças também dessas palavras estáveis? Ou ainda, o projeto tem o foco no espaço? Que tal agregar mais valor ambientando a sua sala com elementos que provoquem investigação e um convite à escrita
  • Que tal preparar uma mesa com diferentes tipos de papéis, canetas, carimbos, cola, envelopes, lápis e deixá-la em um cantinho da sala? Ela é um convite constante ao ato de escrever. 
  • Imagine então se fizermos todos estes movimentos e ainda acrescentarmos nosso próprio “algo a mais”?

Certamente quando permitimos o acesso facilitado e livre da criança aos materiais, estamos evidenciando as construções de conhecimento e reforçando sua autoestima com a validação daquilo que nos demonstram, à sua maneira.

Importante lembrar: a distribuição e a altura das propostas fixadas nas paredes devem estar de acordo com a altura das crianças. O contato visual e tátil faz parte dessa busca por informações. 

Não é só copiar e colar?

Definitivamente não. Sabemos que decorar e imitar podem até ter alguma função no arregimentar de conteúdo. Mas é definitivo, também, que a construção de processos de aquisição de conhecimento precisa passar necessariamente pelas vivências e pelo aproveitamento das situações do cotidiano.

Especialmente para este processo, que sabidamente é dos mais importantes pilares na aquisição de outros saberes, nosso blog já trouxe algumas reflexões como A alfabetização na construção da vida humanae As hipóteses de escrita e a alfabetização cuja leitura também recomendamos.

A ideia da construção de um ambiente alfabetizador passa pela proatividade preconizada por Jean Piaget e pela pesquisadora argentina Emilia Ferreiro. O ponto central é a possibilidade de entregar à criança: acesso, interação, ação e transformação dos ambientes, promovendo experiências cotidianas de aprendizagem e desenvolvimento.

Se você tem alguma sugestão para compartilhar conosco sobre práticas cotidianas que possam contribuir na formação de um ambiente alfabetizador, coloque aqui abaixo nos comentários colaborando conosco e com todos os nossos leitores.

Como já nos foi ensinado por Ana Teberosky, uma das mais renomadas pesquisadoras sobre o tema, coautora da Psicogênese da Língua Escrita:

“Um ambiente alfabetizador aquele em que há uma cultura letrada, com livros, textos digitais ou em papel, um mundo de escritos que circulam socialmente. A comunidade que usa a todo o momento esses escritos, que faz circular as ideias que eles contêm, é chamada alfabetizadora.”

Vamos fazer circular nossas ideias por aqui?

Hipóteses de escrita com Teca Antunes

Curso formado por 3 módulos interdependentes em que vamos nos aprofundar na compreensão do pensamento infantil a respeito da escrita, analisando os saberes construídos em cada momento do processo de aprendizagem sobre o sistema alfabético de escrita e refletindo sobre condições didáticas fundamentais para apoiá-los nesse percurso.

De professor para professor

Qual a importância do ambiente alfabetizador na construção da leitura?

Mais do que ter murais repletos de cartazes, o ambiente alfabetizador é um espaço onde as crianças interagem sistematicamente com a leitura e a escrita, pois a praticam antes mesmo de dominar suas convenções. O uso que se faz dos textos presentes é que tornará o ambiente estimulador da alfabetização.

Qual a importância do ambiente alfabetizador para o processo de ensino e aprendizagem?

A ideia do ambiente alfabetizador é proporcionar interações com as práticas pedagógicas para que juntos, professores e alunos possam criar novas situações de aprendizagem.

Qual e o objetivo do ambiente alfabetizador?

O ambiente alfabetizador passa a ser especificamente considerado como aquele em que a cultura escrita, mediadora de toda prática de alfabetização, precisa ser reconhecida, problematizada, ou mesmo construída pelos participantes do contexto escolar.

Qual a importância que o ambiente alfabetizador tem para Emília Ferreiro?

Com base nesses pressupostos, Emilia Ferreiro critica a alfabetização tradicional, porque julga a prontidão das crianças para o aprendizado da leitura e da escrita por meio de avaliações de percepção (capacidade de discriminar sons e sinais, por exemplo) e de motricidade (coordenação, orientação espacial etc.).

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