Condessa,
Perdão dos agravos, e sobretudo se tenho sido injusto a respeito de sua amizade. Brigue; tenha os repentes a que não puder resistir, que eu sou cada vez mais seu amigo, e apenas verei nessas manifestações a prova de que você não é indiferente à afeição que lhe consagro. Tomara-me já perto de você que as saudades têm sido muitíssimas e para mim não há diferenças de terras quando sinto que você é sempre a mesma para mim. A música do ofício de trevas esta tarde na capela de Burg foi excelente. Amanhã ouvirei nos Minoritas à tarde o Stabat de Pergolesi.
Muito prazer tive em escrever as cartas que lhe mandei, e se tardaram foi pela razão que já sabe.
Estimo que vá bem de sua dor e possa acompanhar o mais possível quem tanto o deseja. Você parece não gostar de que eu repita quanto sou amigo seu; mas que quer? Não posso deixar de consolar-me assim do que você não me diz muitas vezes, talvez porque eu deva estar inteiramente certo disso, embora você me obrigue em algumas ocasiões a adivinhar pelo muito que eu quero que seja como eu o sinto. Desculpe-me este desabafo que, aliás, não foi frequente durante todos os longuíssimos meses de ausência, e faço ponto aqui ficando-me contudo sempre a ideia de que suas cartas aqui chegam em menos de 48 horas, e eu não posso fazer o mesmo, em sentido contrário.
Adeus! Meu abraço a nosso caro rapaz, e retribuição das lembranças, especialmente a mrs. Maude.
Adeus!
Seu de sempre
Alcindo Sodré. Abrindo um cofre. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1956, pp. 210-211.
Nascida em Salvador, na Bahia, e filha do barão de Pedra Branca, Luísa Margarida Borges de Barros foi educada na França e se tornou conhecida por sua inteligência, cultura e arte da boa conversa. Viúva e com um filho, aos quarenta anos foi escolhida dama da imperatriz Teresa Cristina, casada com dom Pedro II, e preceptora das princesas Isabel e Leopoldina. Sua ligação afetiva com o segundo imperador do Brasil permaneceu em segredo até 1956, quando foram publicadas 256 cartas trocadas entre eles.
MAGALHÃES JÚNIOR (R.) . — D. Pedro II e a Condessa de Barral. Editôra Civilização Brasileira S. A. Rio de Janeiro, 1956. 436 pp. (Primeiro Parágrafo do Artigo) Este livro contém a correspondência de D.Pedro II com a Condessa Barral e de
Pedra Branca, a formosa baiana Dona Luisa Margarida Portugal de Barros, casada com o francês, Conde de Barral. DOI:
//doi.org/10.11606/issn.2316-9141.v12i26p552-553 Resumo
Downloads
Não há dados estatísticos.
COSTA, J. C. D. Pedro II e a Condessa de Barral. Revista de História, [S. l.], v. 12, n. 26, p. 552-553, 1956.
DOI: 10.11606/issn.2316-9141.v12i26p552-553. Disponível em: //www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/65487. Acesso em: 3 ago. 2022. Como Citar
Resenha Bibliográfica Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial (CC BY-NC) que permite o compartilhamento do trabalho sem fins lucrativos, com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (veja O Efeito do Acesso Livre).
Seja o primeiro a compartilhar
Filha única do Visconde da Pedra Branca, Luisa Margarida teve uma vida ativa. Conhecida como Condessa de Barral, é considerada uma mulher à frente de seu tempo, cujo perfil independente e audacioso não pode (nem deve) ser sublimado por ter sido a grande paixão de Dom Pedro II.
Nascida na Bahia, a condessa cresceu em um engenho, mudou-se para estudar na Europa e, ao voltar ao Brasil, serviu à Corte francesa e a brasileira. Sua vida ímpar foi digna de uma biografia escrita pela historiadora Mary Del Priore, a obra Condessa de Barral: a paixão do imperador. Confira alguns fatos marcantes sobre sua vida.
1. Intrigante linha de parentesco
Filha única, a Condessa do Barral cresceu no engenho do pai, em Santo Amaro, na Bahia. Porém, muito jovem foi enviada à França para concluir os estudos. Foi nesse período que conheceu e definiu seu marido, que era, vejam só, primo de 5º grau de ninguém menos que Napoleão Bonaparte.
É até difícil explicar a ligação, já que há muitos elos. Contudo, era (mais ou menos) assim: Eugênio era patente do Visconde de Beauharnais, marido de Josefina de Beauharnais, esposa de Napoleão. E nem vamos nos atrever a falar o resto da árvore genealógica, pois daria um nó na cabeça de qualquer um.
2. Foi personagem de novela da TV Globo
Luísa, nossa querida Condessa, também ganhou uma representação em um dos maiores produtos culturais do Brasil. Ela foi personagem de uma novela da TV Globo: Nos Tempos do Imperador.
Interpretada pela atriz Mariana Ximenes, sua história na novela teve importantes mudanças, especialmente seu desfecho. Na trama global, Luísa morre após contrair cólera, sendo que, na realidade, foi vítima de pneumonia.
3. Teve um casamento incomum
Um dos fatos muito curiosos a respeito de Luísa Margarida é que ela, como já citamos, era uma mulher à frente de seu tempo. Um dos fatos que comprova a afirmação é que ela, diferente do que acontecia à época, escolheu seu próprio marido, o nobre Eugênio da foto acima.
E, não bastasse, optou por um homem que possuía um título da nobreza, mas não era rico: a Condessa estava apaixonada mesmo por seus lindos olhos azuis. Ainda por cima, o Conde era um homem de idade próxima, quebrando o padrão de jovens casarem com homens idosos de grande poder.
4. Foi abolicionista
Não foi apenas o pai, Domingos Borges de Barros, que defendeu a abolição, mas a própria Luísa Margarida. Criada em uma família cujos homens eram membros da Maçonaria, os ideias de defensa do fim da escravatura logo foram apropriados pela futura Condessa.
De acordo com a historiadora Mary Del Priore em entrevista ao Metro1, quando o pai retorna de Lisboa, torna "boa parte de seus escravos livres". Organizadora de uma exposição sobre a Condessa, a historiadora Maria Celi Chaves Vasconcelos defendeu, em entrevista ao site da Faperj, a mesma ideia.
Inclusive, Maria Celi afirmou à Faperj que seria Luísa Margarida, nossa nobre Condessa de Barral, uma das responsáveis por influenciar a princesa Isabel a assinar a lei Áurea.
5. Teve grande proximidade com a família de D. Pedro II
Aliás, ter sido preceptora das princesas e tê-las influenciado em ações tomadas na vida mostra a forte presença da Condessa de Barral na família de Dom Pedro II. Dados históricos indicam que as vidas dela e do Imperador se cruzaram por longos 34 anos.
Existem documentos registrados (e mostrados na exposição que comentamos no item acima) que mostram trocas de cartas entre Luísa e as filhas de Dom Pedro II, indicando o apreço, o carinho e a influência exercida na vida delas — e, claro, na do próprio Imperador.
6. Morreu no exílio
Quando da Proclamação da República, Luísa rumou à Europa com a família real, em um claro indicativo da lealdade para com seus membros. Em sua passagem pela França, o próprio Dom Pedro II foi recebido pela nobre em sua residência, na área rural do país.
A Condessa de Barral viveu seus últimos dias na Europa, até falecer, em janeiro de 1891, vítima de pneumonia quando tinha 74 anos. Se houve ou não um romance entre eles, a nós não cabe o tema, mas fica a curiosidade de que Pedro faleceu alguns meses depois, também em Paris.
Você sabia que o Mega Curioso está no Instagram, Facebook e no Twitter? Siga-nos por lá.