Como resolver a falta de moradia

O governo federal revisou os dados oficiais sobre déficit habitacional, com a consultoria da Fundação João Pinheiro e ouvindo especialistas nacionais e estrangeiros. A reavaliação mostrou que faltam 5,8 milhões de moradias (ano base 2019) em todo o país. Segundo o estudo, há ainda uma tendência de aumento no déficit habitacional sendo que “uma das causas é o ônus excessivo com aluguel urbano, hoje caracterizado como o principal componente do déficit”. 

Nos quatro anos considerados pelo estudo, o número de casas desocupadas por conta do valor alto do aluguel saltou de 2,814 milhões em 2016 para 3,035 milhões em 2019, detalha o levantamento da João Pinheiro. Outro dado é a quantidade de residências que apresentam algum tipo de inadequação, número que chega a mais de 24,8 milhões O indicador inclui características de infraestrutura urbana, como falta de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de energia elétrica e de coleta, além de inadequações edilícias, como a falta de espaço de armazenamento, ausência de banheiro, cobertura inadequada e piso inadequado, entre outros. 

A pesquisa apresentou ainda a inadequação fundiária separada dos outros componentes. Em 2016, 2,514 milhões de domicílios tinham algum tipo de inadequação quanto à situação do terreno onde se localizam, o que corresponde a cerca de 4,2% dos domicílios particulares permanentes duráveis urbanos do país.

Já a coabitação teve declínio de 4,2% ao ano entre 2016 e 2019. Esse desempenho se reflete, sobretudo, na redução dos domicílios classificados como cômodos e na estabilização do número das unidades conviventes.

Déficit habitacional envolve desafios além da falta de moradias  

O déficit habitacional é um problema que vai além da falta de moradia, segundo a Fundação 1º de Maio, que destacou outros aspectos da realidade habitacional brasileira. Em seu site, a entidade revela que os números do déficit habitacional do estudo da Fundação João Pinheiro correspondem à soma de cinco subcomponentes: domicílios rústicos, domicílios improvisados, unidades domésticas conviventes, domicílios identificados como cômodo e domicílios identificados com ônus excessivo de aluguel urbano.

No primeiro caso, o Brasil teria cerca de 696.489 domicílios rústicos. Ou seja, aqueles com formas de construção não-convencionais, incluindo paredes que não são de alvenaria, teto de palha, chão de terra batida, entre outras. 

Como resolver a falta de moradia

Já o número de domicílios improvisados chegaria a 785.736. São espaços precariamente adaptados pela família para servir de moradia. Nestes domicílios, geralmente não é possível distinguir cômodos ou individualizar os espaços. Eles normalmente não contam com acesso a serviços básicos de abastecimento de água, energia elétrica, saneamento ou coleta de lixo, configurando uma situação de extrema vulnerabilidade. Nesses locais, pessoas ou famílias podem fixar moradia, adaptando o espaço às suas necessidades.

As unidades domésticas conviventes, por sua vez, chegam a 1.216.407 e se enquadram no cenário onde há mais de uma família em um domicílio. A classificação de domicílios identificados como cômodo totalizam 96.968 e indicam locais onde as pessoas vivem em um cômodo, dividindo a residência com outras pessoas, como o caso das repúblicas e cortiços. 

Finalmente os domicílios identificados com ônus excessivo de aluguel urbano formam o maior volume, chegando a 3.035.739. “Para determinada parcela pobre da sociedade, o aluguel não é uma opção, diferentemente do que ocorre com alguns setores da classe média. A maior preocupação dessas famílias de mais baixa renda é não ter condição de continuar a pagar o aluguel e sofrer com a queda na qualidade da habitação” explica o documento da Fundação 1º de Maio.

Déficit habitacional pode estimular construção sustentável

O papel social da habitação econômica para reduzir o déficit habitacional tem vários exemplos. Um deles é a iniciativa da capital paulista, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional e com a Caixa Econômica Federal. A meta é buscar investimentos para ampliar a construção de unidades habitacionais e também destravar a liberação de documentos para a entrega de empreendimentos nas zonas sul e leste da capital. 

Os convênios previstos podem viabilizar até 100 mil moradias na atual gestão municipal (praticamente 20% do déficit estimado da cidade em 2019). Hoje, 49 mil unidades habitacionais serão viabilizadas até o fim de 2024 e estão previstas no Plano de Metas da Prefeitura. Outras 29 mil unidades já estão garantidas conforme convênio firmado em outubro com o governo estadual. Se as negociações com governo federal avançarem, outras 14 mil moradias devem ser acrescentadas.

O uso de Parcerias Público-Privadas (PPPs) é outro caminho para reduzir o déficit habitacional por meio de moradias de perfil econômico. A primeira iniciativa de PPP de Recife nessa área, lançada oficialmente em dezembro de 2021 , tem como meta a oferta de 450 unidades habitacionais prioritariamente na área central da cidade, voltadas para famílias com renda máxima de três salários mínimos. 

A parceria entre a prefeitura do Recife, a Caixa Econômica Federal, por meio do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), e o Ministério do Desenvolvimento Regional, tem o objetivo de garantir a contratação dos estudos de viabilidade da PPP, que definirão o melhor caminho para sua implantação. 

O modelo será de locação social, com o setor privado construindo moradias que devem ser colocadas à disposição para aluguel dos recifenses com parte do custo assumido pela prefeitura.

Outras formas de combater o déficit habitacional

A construção de novas moradias não é a única solução para reduzir o déficit. A regularização fundiária e a melhoria habitacional também podem contribuir para a redução. 

Dados oficiais indicam que a inadequação de moradias responde por 25% do déficit do setor. O recém-lançado programa do governo federal endereça o assunto. O foco são as propostas de regularização fundiária e melhoria habitacional em núcleos urbanos informais de interesse social. As operações contratadas serão repassadas às famílias beneficiadas a valores subsidiados pelo Fundo de Desenvolvimento Social (FDS). A previsão inicial é atender 44 mil famílias até 2023, das quais 20% também vão receber melhorias em suas habitações. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, existem cerca de 25 milhões de moradias inadequadas no país.

A construção sustentável também pode ser usada na redução do déficit habitacional. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), ela permite construir com recursos e materiais renováveis e recicláveis. As iniciativas devem envolver todo o processo de construção, com destaque para reduzir o desperdício e o consumo de energia sempre. 

O uso de itens produzidos a partir do reaproveitamento pode reduzir os custos da obra em até 40% na avaliação de um estudo da FGV. E mais: como o processo de construção representa cerca de 73% do custo total da obra, o uso de materiais alternativos pode reduzir esse aporte, inclusive se for aplicado em projetos de habitação econômica. 

É possível resolver os problemas de moradia no Brasil?

Uma alternativa eficaz é a moradia para aluguel e subsídios diretos para aluguel. Essa estratégia tem múltiplos benefícios, incluindo maior flexibilidade para demanda e localização mais central. Neste estudo compartilhamos exemplos de políticas que podem ser adotadas pelos governos.

O que pode ser feito para melhorar a moradia no Brasil?

1. TETO Brasil. O TETO Brasil busca trabalhar lado a lado com moradores de comunidades para construir moradias mais dignas, promover a educação de crianças e envolver toda comunidade em projetos de melhoria para seus bairros.

Quais são as causas da falta de moradia?

A principal causa do déficit habitacional é a desigualdade social. Em seguida, vem a falta de políticas públicas efetivas por parte da administração pública, que são, muitas vezes, os únicos recursos disponíveis para famílias pobres ou abaixo da linha da miséria.

Quais são as melhores soluções para resolver o déficit habitacional nas grandes metrópoles?

A construção de novas moradias não é a única solução para reduzir o déficit. A regularização fundiária e a melhoria habitacional também podem contribuir para a redução. Dados oficiais indicam que a inadequação de moradias responde por 25% do déficit do setor.